Gabriel estava sentado numa mesa da praça de alimentação tomando sorvete e com uma caixa de jujubas em cima da mesa. Tinha um segurança colado do lado dele, falando alguma coisa baixinho.
Aquilo já tava me deixando agoniada. Gabriel apressou o ritmo das colheradas e levantou. Ele passou por mim e perguntou com a voz bem baixa se queria comprar uma.
Comprei e ele seguiu. Outro homem chegou perto do segurança, eles cochicharam e foram atrás do menino. No impulso, levantei, fui atrás dele e perguntei se ele queria sentar pra lanchar. Ele estranhou, mas aceitou.
O segurança falou no rádio e se afastou. Gabriel explicou que fazia tempo que não entrava lá porque da última vez rasgaram a camisa dele e tiraram os chinelos antes de expulsá-lo. Hoje resolveu tentar de novo.
Gabriel tem 16 anos, com cara de 12 ou 13. Ele mora no Planalto (Natal- RN) e faz o 8⁰ ano numa escola do Guarapes. Mora com a mãe e 4 irmãos mais novos.
A mãe está desempregada e, como os bicos de faxina não são suficientes, ele vende jujuba depois da escola e nos finais de semana. Ele disse que também pede comida e fraldas no Atacadão pra levar pra os irmãos. Do lanche ele só comeu o sanduíche e perguntou se podia levar a batata frita pra casa.
Gabriel tem um sonho: ser jogador de futebol. Perguntei se tinha algum outro sonho também. Ele pensou e disse que não. Eu disse que pra ser jogador tinha que ser muito bom. A resposta dele foi: “Eu sou muito bom”.
Já joguei em vários lugares, o último foi a Fábrica de Craques na Redinha. E lá eu fui chamado pra fazer um teste no Rio de Janeiro. Mas eu não tive dinheiro pra ir. Depois disso, nunca mais joguei.
Não sei se Gabriel é bom como disse, mas confiei que sim. Perguntei se podia tirar uma foto dele e tentar alguém que ajudasse com esse sonho e ele consentiu. Gabriel olha nos olhos da gente ao falar e o olhar dele é bom. O coração também parece ser.
Este texto é um repost do anjo @anaetenderini
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